Vendendo uma Cidade

Case

Essa é mais uma daquelas que vai ficar para a história.

Orçamento aprovado na sexta-feira, briefing no sábado e filme pronto na quarta-feira. O cliente: Prefeitura de São Paulo, o job: filme para o Road Show de São Paulo, que ajudaria o Prefeito João Doria com o seu projeto de desestatização.

Acho que foi a primeira vez que iniciamos as filmagens sem um esboço mínimo de roteiro definido. Em reunião, eu, o Paulo, nosso produtor executivo e o Jonas, diretor do filme, elencamos alguns pontos que seriam fundamentais para serem filmados e o Jonas partiu no sábado mesmo com sua equipe.

Enquanto o time já estava em campo, era minha vez de redigir o roteiro o mais rápido possível. Como o prazo urgia, não tínhamos tempo para idas e vindas, eu tinha que “jogar seguro”, mas surpreender ao mesmo tempo. Esse foi também o primeiro roteiro que redigi, desde o primeiro momento, em inglês.

Confesso que sou apaixonado por São Paulo e procurei que isso fosse, de alguma forma, pano de fundo para a filme. Mais do que mostrar números grandiosos, busquei trazer um certo orgulho por eles e pela cidade também.

Em menos de duas horas o roteiro estava pronto e aprovado, o Jonas e sua equipe já não voava mais às cegas. Enquanto isso, o time de edição vasculhava o arquivo da Farol Filmes em busca de cenas que “aumentassem o caldo” e a trilha sonora estava sendo composta.

Roteiro aprovado, equipe na rua e edição já pesquisando imagens e começando a cobrir a locução, que já fora gravada na madrugada de sábado mesmo, pelo grande Kevin, locutor nativo americano que sempre trabalhamos em nossos filmes. A minha parte do job estaria calma, se não fosse o Paulo, que me largou com a “granada sem pino” nas mãos e foi para Brasília no domingo, para algumas reuniões de trabalho.

O lado bom de se trabalhar com um Prefeito que adora trabalhar é também o ruim. Tudo é resolvido com rapidez, normalmente às 3 da madrugada de uma segunda-feira.
Filme pronto na terça de madrugada, chegou a vez de apresentá-lo para a comitê. Chamo comitê, pois haviam umas quinze pessoas na sala de reuniões. Do lado da mesa, apenas euzinho. Jonas trabalhava com o time na correção de cores e o Paulo viajava a trabalho.

Tenho trinta anos de profissão nas costas, mas confesso que esse dia rolou uma insegurança quase que juvenil, explicável, é claro. Na reunião de briefing haviam apenas 2 pessoas do lado de lá, por que agora haviam 15 para avaliar o trabalho?

Nesses momentos, quando a pessoa “cai de pára-quedas” para dar palpites sobre algo, normalmente esses palpites não têm fundamento, e não tínhamos tempo para isso.
Para minha surpresa, o filme saiu quase ileso, o Secretário de Comunicação, segurou o ímpeto dos palpiteiros. O filme fora então para a aprovação final e o Prefeito fez poucos ajustes.
Normalmente esse case acabaria aqui, mas o mais surpreendente veio depois. Comecei a receber o filme no Zap, de inúmeras fontes. A peça começou a ser comentada em sites de notícias, saiu em jornais. Em menos de 48 horas já tinha mais de 2.5 milhões de views, tudo orgânico. Motivo de orgulho!

No final de semana abro o jornal e deparo com um texto da Fernanda Torres, em sua coluna da Folha, mencionando o filme, falando que o Rio precisava sentir orgulho assim da cidade. Confesso que pensei no fato dela ter tido mais tempo para produzir aquele texto do que eu tive para redigir o roteiro.

A última vez que vi os números, lembro que era algo em torno de 6 milhões de views, isso para o filme em inglês e produzido em tempo recorde, nada mal!

Até hoje recebemos ele como referencia de narrativa e qualidade, vinda de outros clientes e ainda é um excelente cartão de visitas.

A única coisa que peço sempre, é um pouquinho mais de prazo, é claro!

Por: Fabio Modena